Autor Quem?: GLÓRIA PEREZ

Glória Perez

Glória Perez é uma mulher que divide opiniões. Uns a veneram, outros a odeiam, e há também os que apenas assistem às suas novelas, sem qualquer reação. Polêmica até o útlimo fio de cabelo, a autora, já trouxe as mais diversas discussões para o seio de suas tramas, e instaurou o que hoje é chamado de 'merchandising social'.

Nascida em Rio Branco, capital do Acre, em 25 de setembro de 1948, Glória Perez tem uma carreira marcada por diversos acontecimentos marcantes, e até tristes. Seu primeiro trabalho como autora na Globo, foi ter participado do grupo de roteiristas de Malu Mulher, ao qual pertenciam ainda Euclydes Marinho e Manoel Carlos. Infelizmente, o único episódio escrito por Glória nunca foi gravado. Anos depois, mais precisamente em 1983, Glória foi convidada pela Globo, a colaborar com Janete Clair nos capítulos da novela "Eu Prometo". Janete, que já estava debilitada, acabou por falecer antes de concluir a novela, protagonizada por Francisco Cuoco, Renée de Vielmond e Dina Sfat. A trama foi então conduzida por Glória, contando com a supervisão de Dias Gomes, o viúvo de Janete Clair. No ano seguinte, a autora se uniu a Aguinaldo Silva para escrever a novela "Partido Alto". A trama foi um verdadeiro samba do crioulo-doido, um disperdício de elenco, numa novela sem pé nem cabeça, já que era nítida incompatibilidade de idéias dos autores, o que acarretou a saída de Aguinaldo, tendo Glória assumido de vez a autoria da trama. Curiosamente, esta foi a única trama em que Glória Perez dividiu a autoria com alguém, pois geralmente ela não tem nem colaboradores.

Após este fracasso, a autora foi convidada a escrever para a Manchete, e desenvolveu a polêmica novela "Carmem", que trazia uma Lucélia Santos bem diferente das mocinhas chorosas de seus maiores sucessos. A personagem título era uma jovem que resolvia fazer um pacto com a Pombagira para atrair a atenção dos homens. Como se já não bastasse essa polêmica, Glória pela primeira vez ousava falar da Aids, promovendo uma campanha na novela, com participação do sociólogo Betinho. Anos mais tarde, em 1990, ela retorna à Globo, e apresenta um argumento para uma minissérie, que contava a trajetória de Euclides da Cunha. Aprovada, a minssérie "Desejo" se tornou um sucesso de público e crítica, marcada pelo triângulo amoroso central formado por uma Vera Fischer morena e de cabelos curtos, Tarcísio Meira e Guilherme Fontes.

Com o nome em alta na Globo, Glória finalmente conseguiu emplacar sua tão sonhada novela-solo na Globo. Desde 1985 caducando nas gavetas da Globo, a sinopse de "Barriga de Aluguel" foi finalmente aprovada. A trama que contava a história de Clara (Cláudia Abreu), uma jovem que 'alugava' sua barriga para gerar um bebê de outra mulher, já era polêmica por si só. Glória ainda provocou discussões sobre o tema, utilizando-se dos personagens Miss Brown (Beatriz Segall) e Dr. Molina (Mário Lago), que acompanhavam à gestação, e divergiam em suas opiniões. É com "Barriga de Aluguel" que Glória dá início à prática do merchandising social, sendo por vezes ridicularizada pelos outros autores. A novela foi um sucesso, fez o Brasil inteiro acompanhar o desenrolar daquela história, e questionar o direito das duas mães sobre o bebê, tudo ao som da melodramática "Aguenta Coração" (José Augusto), o tema de abertura da novela, que foi um verdadeiro estouro. Cláudia Abreu, se tornou a estrela daquele ano, a nova queridinha do público. Para resolver quem deveria ficar com o bebê, Glória recorreu a justiça real, que deu na primeiro deu a guarda à Clara, a mãe de aluguel e depois para Ana (Cássia Kiss), a mãe biológica. Ao final, Glória deixa margens à imaginação do público, já que a resposta não é dada, e na cena final as 'mães' aparecem passeando com a criança. O sucesso foi tão grande, que de 191 capítulos, a trama passou a ter 243, sendo uma das mais longas novelas já produzidas pela Globo. Tudo, sem sem que a trama ficasse desgastada, ou o telespectador perdesse o interesse. A novela marca ainda o início da parceira do então estreante Victor Fasano com a autora.

No trama seguinte, "De Corpo e Alma", já no horário nobre, Glória vem munida de mais discussões e assuntos polêmicos. Desta vez, as atenções estão voltadas para a doação de órgãos. Na história Diogo (Tarcísio Meira) é um juiz que tem um caso com Betina (Bruna Lombardi), que morre num acidente, e tem seu órgão transplantado em Paloma (Cristiana Oliveira), que passa a ser a nova paixão do juiz. A trama, bem folhetinesca, é uma das características mais marcante de Glória Perez, o que faz com que ela se assemelhe à outra Glória, a Magadan, que era expert nestas tramas rocambolhescas e confusas. Como apenas uma polêmica é bobagem para La Perez, a autora abordou o clichê da troca de crianças na maternidade, e ainda o trabalho dos stripers, que era a profissão de um dos protagonistas da trama. Com o sucesso do tema, os Clubes das Mulheres começaram a se proliferar por todo o Brasil, aproveitando a fama do personagem Juca (Victor Fasano). Porém, apesar de todas as polêmicas, a que mais marcou ocorreu fora da novela, quando a atriz Daniela Perez, filha da autora, que tinha interpretava a jovem Yasmin na novela, foi brutalmente assassinada pelo colega de cena, Guilherme de Pádua, que interpretava seu par romântico na trama. A partir de então, as atenções do público ficaram mais voltadas para o caso do que para a novela. Mesmo abatida, Glória não deixou a autoria da trama, sendo apenas substituída por Gilberto Braga e Leonor Bassères, durante a semana em que o crime ocorreu. O crime até hoje não foi esquecido, com Glória Perez lutando até hoje por justiça, já que os assassinos já estão em liberdade.

Durante esse periodo de reclusão, ela aceita a proposta do SBT para escrever novelas na emissora de Sílvio Santos, porém, não cumpriu o contrato, e até hoje responder o processo. Caso perca, terá que desembolssar milhões, como já fez o autor Wálther Negrão. Em 1995, ainda marcada pelo acontecido, Glória retorna à tv, com "Explode Coração". A trama apresentava uma nova forma de ver os ciganos, com seus preceitos e crenças, porém, mais modernos e estáveis. Glória trazia à tona as tradições ciganas, aliadas a tecnologia proporcionada pela internet, uma combinação que parece irreal, mas que funcionou bem para a novela, que contava a história de Dara (Tereza Seiblitz) e Júlio Falcão (Edson Celulari), que se apaixonavam através da internet sem ao menos se conhecerem. "Explode Coração" não foi nenhum sucesso retumbante, mas deixou sua marca, principalmente pelo merchandising social da vez, o drama das crianças desaparecidas, desenvolvido através da personagem Odaísa (Isadora Ribeiro), que buscava pelo seu filho desaparecido. Ela uniu-se às Mães da Cinelândia reais, o que provocour muitos reencontros de mães com seus filhos. Foi aqui também que Glória passou a lançar mão dos depoimentos dessas mães durante a trama, além das fotos no encerramento da novela. Durante, a novela foram localizadas 64 desaparecidos. "Explode Coração" também ficou famosa pela incrível falta de talento de Ricardo Macchi, na pele do cigano Ígor, lembrado até hoje.

Em 1998, Glória volta com mais uma minissérie. Dessa vez é "Hilda Furacão", inspirada no livro homônimo de Roberto Drummond. A história da moça de família que se torna a mais conhecida das prostitutas de Belo Horizonte, foi mais um golpe de mestre de La Perez. A autora conduziu como ninguém, introduzindo ganchos que só ela sabe como fazer. A trama aliás, marcava a estréia de Ana Paula Arósio na Globo. O curioso, é que durante o período em que gravava e estava no ar na minissérie, a atriz ainda era contratada pelo SBT. No mesmo ano, Glória voltaria à tv como um dos mais aguardados remakes da televisão. Tratava-se da nova adaptação de "Pecado Capital". E foi realmente isso, uma readaptação, pois quem aguardava um remake extremamente fiel da obra de Janete Clair, se decepcionou. Glória adicionou personagens, criou mais tramas paralelas, e colocou a história no ar. Com Eduardo Moscóvis na pele de Carlão, Carolina Ferraz como Lucinha e Francisco Cuoco (o Carlão de 1975) intepretando Salviano Lisboa, esta nova versão de "Pecado Capital" não agradou, e acabou levando fama de fracasso. Um dos motivos, foi a total falta de empatia entre Carolina Ferraz e Francisco Cuoco, o que comprometia a história, já que deles dependia o triângulo amoroso da trama. A solução foi então criar Laura, a mulher que conquistaria Salviano. E ninguém melhor para seduzir do que Vera Fischer. Mas nem assim a trama deslanchou. Dessa vez, o merchandising foi o drama dos desabrigados do Pallace II, que havia desabado no começo deste ano.

Meio que em baixa, devido ao fracasso de "Pecado Capital", Glória ficou afastada durante alguns anos, retornando à tv em 2001. A novela da vez trataria do mundo mulçumano, clonagem e drogas. Temas pesados e de difícil aceitação. A pré-produção foi totalmente atribulada. Denise Saraceni foi a escolhida para assumir a direção, mas devido a divergências com Glória Perez, saiu do projeto. Em seu lugar entrou Luís Fernando Carvalho, e por último, então Jayme Monjardim. Para os papéis de protagonistas, La Perez queria Letícia Spiller e Fábio Assunção, porém, ambos declinaram do convite, o que fez até com que Letícia ficasse meio que de castigo na emissora. Murilo Benício, então, se ofereceu para dar vida ao protagonista. E para viver a protagonista Jade, quem? Depois de muito pensar resolveram por Giovanna Antonelli, que havia sido o destaque como a prostituta Capitu, de "Laços de Família", a antecessora de "Porto dos Milagres", que seria substituída por "O Clone". Giovanna aceitou o desafio, e então estava definido os últimos pontos da produção. Contando a história de amor entre Jade (Giovanna Antonelli) e Lucas (Murilo Benício), mesclada com os mistérios do mundo mulçumano, a clonagem humana, e o uso de drogas, Glória Perez escrevia aqui o seu melhor, e mais reconhecido trabalho. "O Clone" foi uma novela que cruzou fronteiras, e até hoje, é aclamada em várias partes do mundo. Glória soube conduzir bem todos os temas propostos, e criou uma magnífica rede de emoções, que paralizou o país, com entrechos interessantes, personagens bem delineados, e uma trama bem construída e intricada. Assim como Giovanna Antonelli e Murilo Benício, Débora Falabella também conheceu o sucesso, imortalizando sua personagem Mel, que era viciada em drogas, que aliás foi o merchandising da vez, junto com a clonagem humana. No decorrer da trama, eram exibidos depoimentos de viciados ou ex, que davam suas versões do uso das drogas, com inclusive, depoimentos de famosos como Nana Caymmi e Carlos Vereza. Já sobre a clonagem humana, Glória trouxe novamente à tv os personagens de "Barriga de Aluguel", Dr. Molina (Mário Lago) e Miss Brown (Beatriz Segall), para uma discussão sobre o tema, com o Dr. Albieri (Juca de Oliveira), o responsável pela clonagem da novela.

Após o sucesso de "O Clone", Glória ficaria mais três anos sem escrever, retornando em 2005, com mais uma trama cheia de temas e conflitos. Falo de "América", que unia dessa vez, o mundo dos rodeios à imigração legal, e mais uma infinidade de temas. Aliás, antes da estréia da novela, Glória recebeu mensagens e até ameaças de morte, de grupos contrários aos rodeios. Com uma trama confusa e cheia de personagens, Glória Perez começou a se embolar com a sua própria história, o que acabou gerando o afastamento do diretor da novela, Jayme Monjardim, com quem ela havia contado no sucesso "O Clone". Com a saída do diretor de núcleo, Glória fez modificações na trama, inclusive na abertura, que antes entoava versos berrantes de Milton Nascimento, na belíssima "Órfãos do Paraíso", sobre cenas lentas, e foi substítuida pela animação contagiante de Ivete Sangalo com "Soy Loco Por Tí America", numa abertura bem colorida, que ajudou a dar um novo ritmo à novela. Personagens antes lacrimejantes e derrotados, tornaram-se pessoas fortes, que correm atrás dos seus objetivos, como a própria protagonista Sol (Déborah Secco). Por fim, a novela fez sucesso, e como já é de se esperar, os merchandisings da vez, foram muitos: os prós e contras do mundo dos rodeios, as dificuldades da imigração ilegal, cleptomania, deficiência visual, homossexualismo, isso só para citar alguns. Como de costume, Glória abriu espaço para os depoimentos, só que desta vez em forma de programa, em que os convidados, em geral deficientes visuais, contavam suas histórias. No último capítulo, muitos se decepcionaram, pois um prometido beijo gay, foi gravado, mas não foi ao ar.

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