Sessão Nostalgia: O ASTRO

Exibida de 06 de dezembro de 1977 a 08 de julho de 1978, pela Rede Globo, no horário das 20h. Com 186 capítulos.

Novela de Janete Clair.
Direção de Daniel Filho e Gozanga Blota. Com direção geral de Daniel Filho.
"O Astro"
foi uma novela onde tudo atingiu a tônica certa, correspondendo, e até superando todas as expectativas propostas. Janete Clair não se permitiu arriscar! Criou uma história com todos os entrechos que atraem ao público. Em seu livro, Antes que Me Esqueçam, o diretor Daniel Filho confessa: "Vou fazer uma novela em que não existe a menor possibilidade de erro: temos que apelar, temos que atingir o público de todas as faixas (...) Nessa novela trabalhei com o kitsch. Eu realmente queria apelar, e procurei fazaer dos árabes uma coisa bem extravagante, bem kitsch.". E não deu outra, "O Astro" foi um grande sucesso popular, obtendo índices de audiência superiores aos das transmissões dos jogos do Brasil na Copa da Argentina - 80% em média. Com esta novela, Janete Clair dava continuidade a um trabalho mais realista, iniciado em "Pecado Capital", ao lado de Daniel Filho. Porém, depois de "O Astro", Janete jamais alcançaria o sucesso fenomenal conquistado até esta novela.
A inspiração para o entrecho principal da novela, Janete foi buscar na trajetetória de ascenção do ex-ministro do Bem-Estar Social da Argentina, Luiz Lopez Rega, conhecido com 'El Brujo', por Amanda e Herculanoexercer forte influência na administração do presidente Perón. Não foi a primeira vez que Janete tentou apresentar "O Astro". Em 1973, após o esplendoroso sucesso da recordista "Selva de Pedra", a autora tentou escrever "O Astro", mas a sinopse foi vetada pela Censura, escrevendo "O Semideus", então. O título original que Janete havia pensado para ambas as novelas, havia sido "O Bruxo", também vetado.
Com esta novela, Janete iniciava a exploração de um, até hoje, famoso bordão: "Quem matou?". Aliás, fora ela mesma que havia começado com estas mortes misteriosas, também utilizada em "Véu de Noiva". Aqui o morto havia sido, o poderoso Salomão Hayalla, interpretado por Dionísio Azevedo, que saiu de cena no capítulo 42 da novela, exibido em 23 de janeiro de 1978, mas causou uma espécie de "comoção nacional", fazendo o Brasil parar para descobrir quem era o assassino de Salomão Hayalla, uma indagação que permaneceu por cinco meses na cabeça dos telespectadores, e que só foi revelada no último capítulo.
A curiosidade era tão grande, que segundo Daniel Filho, em uma reunião em que a classe artística fora a Brasília, para assinatura da lei que regulamentava a profissão de ator no Brasil, eles foram recebidos pelo então presidente Ernesto Geisel, que perguntou a Daniel: "Diga uma coisa, quem matou Salomão Hayalla?". E ele respondeu: "Isso é segredo de Estado, e disso sei que vocês entendem!". Até mesmo numa importante recepção oferecida em Brasília, pelo Ministro das Relações Exteriores, Azeredo da Silveira, ao ex-secretário do de Estado norte-americano Henry Kissinger, "O Astro" mostrava sua força junto ao público. Quando a novela começou, o salão ficou deserto, pois todos os convidados se reuniram na frente da televisão mais próxima, tudo para acompanhar a trama.
Até mesmo Maria Bethânia mostrou-se fã de "O Astro", exigindo que no seu camarim, tivesse uma televisão para que ela acompanhasse os capítulos da novela, antes do início de seus shows no Canecão - casa de shows carioca -, onde ela cumpria temporada.
Porém, apesar de todas as tentativas, não conseguiram guardar a identidade do assassino de Salomão Hayalla, pois, três dias antes da exibição do último capítulo, o Jornal do Brasil deu o furo, com manchete na primeira página do jornal: "o assassino é Felipe". E apesar de terem sido gravados cinco finais diferentes para enganar a imprensa, Daniel e Janete optaram por este mesmo, pois era o mais coerente. A escolha do assassino decepcionou o público, já que Felipe (Edwin Luisi) sempre fora o principal suspeito, pelo fato de ele ser o amante da mulher da vítima.
A autora sempre dizia que quando lhe faltava inspiração para escrever "O Astro", ela lia jornais. E foi exatamente de uma dessas notícias de jornais que Janete construi seu crime de ficção que abalou o Brasil. Quando a novela já estava para acabar, a imprensa registrava o assassinato da jovem Cláudia Lessin Rodrigues, cujo os acusados do crime eram um rapaz viciado em cocaína, e seu amigo, um cabelereiro. Tal qual na história da vida, na novela, os assassinos do magnata, foram Felipe Cerqueira, um toxicômano mau-caráter, tendo como cúmplice seu amigo, Henri, um cabelereiro. O assassino matou Salomão Hayalla com uma coronhada de revólver na cabeça.
Mas nem só de Salomão Hayalla viveu "O Astro". A novela contou com grande interpretações, como Francisco Cuoco, perfeito como Herculano Quintanilha, que de vidente de um churrascaria, se tornara uma importante figura num governo ditatorial da América Latina. Elisabeth Savalla, já começava a ganhar status de estrela, status esse já conquistado por Dina Sfat e Tereza Rachel, que complementavam a constelação desta novela. Falando em Dina Sfat, em "O Astro" Janete Clair fez com que ela desse uma espécie de troco em Francisco Cuoco, abandonando Herculano na igreja, no dia de seu casamento. Em "Selva de Pedra" fora Cristiano personagem do ator que abandonara a vilã Fernanda (Dina Sfat) na igreja, numa das cenas mais marcantes desta novela, em que ela sai aos prantos, rasgando o vestido.
Vale destacar também Tony Ramos, intérprete de Márcio Hayalla, um jovem que renega a fortuna do pai, seguindo o exemplo de São Francisco de Assis. Aliás, tal como o santo, Márcio se despe, jogando as roupas sobre o pai, Salomão, saindo à rua nú, dizendo que não quer nada que provenha dele, numa das cenas mais marcantes desta novela, exibida no capítulo 9, em 15/12/1977. Tony Ramos, que havia estreado na Globo na novela anterior à "O Astro", "Espelho Mágico", atendendo ao pedido de Daniel Filho, aceitou fazer um teste de improviso com as atrizes novatas que disputavam o papel de Jôse, um dos amores de Márcio. Papel que ficou com Sílvia Salgado. Já Tony, que não estava sendo testado, entusiasmou tanto o diretor com sua interpretação, que foi convidado por Daniel a atuar em "O Astro", emendando uma novela na outra. Sendo assim, Tony Ramos começou a gravar a trama de Janete Clair, quando ainda fazia "Espelho Mágico".
Um dos aspectos mais relevantes de "O Astro" foi a caracterização de Herculano Quintanilha, em que Francisco Cuoco, usava turbantes e roupas bem coloridas. Foi de Daniel Filho a idéia do turbante, que surgiu durante as gravações do primeiro capítulo, em que o diretor sentiu a necessidade de algum detalha para compor o visual do personagem. Ele então, pediu que cortassem um pedaço da calça de um figurante, improvisando com um alfinete, o adereço que caracterizaria para sempre o protagonista. José Bonifácio Sobrinho, o Boni, também lembra de um aspecto importante de "O Astro", quando Janete Clair lhe pediu uma modificação na abertura, que mostrava símbolos esotéricos: "Em "O Astro", que começou cambaleante, ela me pediu para tirar da abertura uma imagem que representava o mal. A imagem saiu e a audiência explodiu imediatamente!". Quando a trama chegou na reta final, Tereza Rachel, intérprete de Clô Hayalla - uma das protagonistas da trama -, sofreu um acidente em que seu Passat chocou-se contra a lateral de um outro carro, capotando quatro vezes, virando um monte de ferragens. Surpreendentemente, a atriz só sofreu uma leve fratura, com algumas escoriações generalizadas, retornando às gravações dias depois.
Três dias depois do último capítulo de "O Astro" ir ao ar, Carlos Drumond de Andrande escreveu em sua coluna num jornal: "Agora que "O Astro" acabou vamos cuidar da vida, que o Brasil está lá fora esperando". Aliás, foi nesta coluna que Drumond apelidou Janete Clair de, a Usineira dos Sonhos. Chegava ao fim então, o último grande sucesso de Janete Clair, que cinco anos depois, com mais três novela no currículo, e até um pouco infeliz, viria a falacer.
"O Astro"
foi reapresentada num compacto de 20 capítulos entre os meses de fevereiro e abril de 1981, às 22h15. E também, num compacto de uma hora e meia, em 11 de fevereiro de 1980, como atração do Festival 15 Anos, com apresentação de Tony Ramos.
Sinopse

A inescrupulosa escalada social de Herculano Quintanilha (Francisco Cuoco), de vidente numa churrascaria à alta direção de um forte grupo empresarial. Herculano e seu parceiro Neco (Flávio Migliaccio) aplicam um golpe na paróquia de uma cidadezinha do interior e são descobertos. Neco foge com o dinheiro e Herculano, traído, é pego pelas autoridades. Encobertado pelo vigário, Herculano escapa deixando para trás a mulher, Doralice (Cleyde Blota), e o filho pequeno, Alan (Luís Carlos Niño/ Stepan Nercessian). Anos mais tarde, Herculano Quintanilha, agora vidente, reencontra Neco na churrascaria onde se apresenta, e passa a persegui-lo.

Do outro lado da história está o clã dos Hayalla. O poderoso empresário Salomão Hayalla (Dionísio Azevedo) tem como sócios em seus negócios os irmãos Samir (Rúbens de Falco), Youssef (Isaac Bardavid) e Amin (Macedo Neto), e o amigo Mello Assunção (Hélio Ary). Casado com a fútil Clô (TerLili e Márcioeza Rachel), Salomão deseja que o filho, Márcio (Tony Ramos), assuma seu lugar nos negócios da família. Mas o jovem idealista é alheio à fortuna e ao poder, só lhe interessando a fé em São Francisco de Assis. Abandonando a casa do pai, Márcio conhece Herculano e influenciado por ele, resolve assumir sua condição de herdeiro do império Hayalla. Mas Márcio leva o amigo consigo para a diretoria das empresas, e é no ambiente dos Hayalla que Herculano conhece Amanda (Dina Sfat), filha de Mello Assunção e com o casamento em crise com Samir Hayalla. A paixão entre os dois culmina com o fim da relação de Samir e Amanda e aumenta o ódio dos Hayalla pela influência de Herculano na família.

Márcio, por sua vez, em contato com o universo do amigo vidente, conhece e se apaixona pela jovem Lili (Elisabeth Savalla), cunhada de Neco, uma moça simples e batalhadora que sofre com o marido malandro, Natalício (Carlos Eduardo Dolabella). Os desencontros entre Márcio e Lili são fortalecidos pela família do rapaz, que não aceita Lili e vê na jovem Jôse (Sílvia Salgado), irmã de Amanda, completamente apaixonada por Márcio, uma nova maneira de selar a união entre as famílias Hayalla e Mello Assunção. Mas dois fatos desencadeiam uma série de conflitos na vida dos personagens, como a morte de Jôse, vítima de uma doença crônica, que deixa então o caminho livre para Márcio e Lili. E o misterioso assassinato de Salomão Hayalla. Enquanto avançam as investigações acerca do crime, Samir e Herculano, agora casado com Amanda e acionista das empresas Hayalla, travam uma batalha para garantir o comando dos negócios. Acusado de fraudar a empresa, Herculano foge abandonando a mulher Amanda, e refugia-se num pais ditatorial da Amércia Latina, servindo ao presidente desse país como guru e conselheiro. No Brasil, a polícia chega ao assassino de Salomão Hayalla: era Felipe Cerqueira (Edwin Luisi), o jovem amante de Clô, um toxicômano que fora humilhado por Salomão e tinha como cúmplice o amigo cabelereiro Henri (José Luiz Rodi).

Elenco:

Francisco Cuoco/ Dina Sfat/ Tony Ramos/ Elisabeth Savalla/ Dionísio Azevedo/ Tereza Rachel/ Rúbens de Falco/ Carlos Eduardo Dolabella/ Flávio Migliaccio/ Ângela Leal/ Stepan Nercessian/ Edwin Luisi/ Sílvia Salgado/ Ida Gomes/ Isaac Bardavid/ Macedo Neto/ Heloísa Helena/ Hélio Ary/ Thelma Elita/ Ênio Santos/ Eloísa Mafalda/ Maria Sílvia/ Rejane Marques/ Tony Ferreira/ Edson Silva/ Maria Helena Velasco/ Cleyde Blota/ Juan Daniel/ José Luiz Rodi/ Marília Barbosa/ Paulo Gonçalves/ Mira Palheta/ Leda Borba/ Marilena Curi/ Betinho/ Cecília Loyola/ Aguinaldo Rocha/ Luiz Macedo/ César Augusto/ Kleber Drable/ Zé Préa/ Newton Martins/ José Maria Monteiro/ Gonzaga Blota/ Luís Carlos Niño/ Carlos Poyart/ Michele Bulos/ Eduardo D'Ângelo/ Vívian Renata Lemos Scofano/ Davi Ribeiro da Silva/ Afonso Stuart/ Nestor de Montemar.

Abertura CLIQUE AQUI para baixar!

0 comentários: