Sessão Nostalgia: Festival Dancin' Days

Exibida de 10 de julho de 1978 a 27 de janeiro de 1979, pela Rede Globo, no horário de 20h. Com 174 capítulos.

Novela de Gilberto Braga.

Direção de Daniel Filho, Gonzaga Blota, Dennis Carvalho, Marcos Paulo e José Carlos Piéri. Com direção geral de Daniel Filho.

Com esta novela Gilberto escrevia, definitivamente seu nome na história das telenovelas. A partir de uma idéia de Janete Clair, chamada de "A Prisioneira", Giberto Braga desenvolveu uma trama extremamente sedutora, levando "Dancin' Days" a se tornar um dos maiores sucessos da história da televisão brasileira - sucesso não esperado nem mesmo pelo próprio autor.

Dancin' Days era o nome de uma famosa discoteca de Nelson Motta, mantida pelo produtor musical durante quatro meses de 1976, no recém-inaugurado shopping da Gávea. Esta discoteca foi inserida no enredo no rastro de seus sucesso no Rio de Janeiro, e também, no rastro do sucesso do filme, Os Embalos de Sábado à Noite, com John Travolta, exibido na época.

Gilberto Braga havia pensado inicalmente em Betty Faria para o papel de Júlia Matos, mas Betty estava prestes a estrear o programa Brasil Pandeiro. Para o papel de Hélio, Gilberto havia pensado no próprio Daniel Filho, que viria a ser o diretor da novela. Mas a personagem que deu mais trabalho à equipe, foi sem dúvida, Yolanda Pratini. Ás vésperas estréia, várias cenas tiveram que ser regravadas, pois Joana Fomm havia substituído Norma Benguell, no papel da megera irmã de Júlia. Daniel Filho narra este fato em seu livro, Antes Que Me Esqueçam: "O papel era muito bom, mas ela não conseguiu adaptar-se ao ritmo das gravações. Seus tempos de criação, suas propostas de interpretação não eram compatíveis com a novela. (...) As cenas saíam com dificuldade. O principal motivo era certamente que ela se sentia menos prestigiada, já que o tratamento dados as estrelas da tv não é o mesmo dado as estrelas do cinema. (...) Claro que ela tinha talento para fazer o papel. O que faltava nela era o entrosamento com o ritmo da televisão. A saída foi substituí-la". Aliás, numa falha de edição, dá para ver a atriz Norma Benguell numa cena de externa do capítulo 6, quando Yolanda deixa Marisa (Glória Pires) de carro na porta da escola de sapateado. Antes de substituir Norma, Joana Fomm havia sido escalada para o papel de Neide, secretária de Celina (Beatriz Segall), papel que ficou com a atriz Regina Viana.
Daniel Filho dirigiu a novela até o capítulo 26, passando, então, o comando da direção para Gonzaga Blota, apenas supervisionando as cenas. Mais tarde, Blota seria ainda substituído por Dennis Carvalho, Marcos Paulo e José Carlos Piéri, já que havia sido escalado para dirigir a próxima novela, "Pai Herói".
Sônia Braga ditou moda, com suas roupas de cetim e meias soquetes de lurex, e a novela virou coqueluche, espalhando cada vez mais discotecas pelo país. As meias de luréx, meio fosforecentes, listradas e coloridíssimas, com as sandálias de tira e salto alto, viraram mania nacional, sendo praticamente impossível ver alguma mulher sem elas. Ainda na onda do merchandising, a boneca Pepa, companheira inseparável de Carminha (Pepita Rodrigues), foi parar nas prateleiras, vendendo 400 mil unidades. Ainda comentando sob a febre que se tornou "Dancin' Days", por causa da novela, os vôos de asa-delta, praticados por Beto (Lauro Corona), deixaram de ser apenas um hobby da zona sul carioca. "Dancin' Days" mereceu ainda, uma reportagem na revista norte-americana Newsweek, em novembro de 1978, que destacava a influência que a novela exercia sobre os hábitos brasileiros. E a partir desta novela, é que passou-se a discutir exatamente esta questão, que é muito falada até hoje.

Sônia Braga comentou como conseguiu o papel de Júlia Matos: "Eu fiz teste para o papel. Foi decisão minha. Eu tinha 28 anos, e Júlia começava a novela trintona, após 11 anos de cadeia, com uma filha de 15 anos. O Daniel me ofereceu o papel, mas eu não tinha certeza se eu poderia funcionar como uma mulher mais velha, mãe de adolescente, com passado barra pesada". Sônia fala ainda da frase que insistiu Gilberto Braga fizesse Júlia falar: 'A porta da rua é serventia da casa. Ponha-se daqui para fora!' Gilberto resistiu, disse que não poderia pôr uma frase dessas de jeito nenhum na boca da protagonista da novela, até que um dia veio a surpresa. Numa visita de Yolanda, Júlia disse "a porta da rua é a serventia da casa', jogou-lhe a capa de chuva em cima, apontou-lhe a porta e terminou 'ponha-se daqui para fora!".

Janete Clair, a grande mestra do autor, prestou uma colaboração informal a Gilberto Braga. A certa altura da preparação da novela, Janete lendo os capítulos, balançou a cabeça com ar de reprovação e disse: "Aqui no capítulo 16, o mocinho tem de encontrar a mocinha e começar um romance, senão a novela não agarra". Como palavra de mestra é uma ordem, Gilberto Braga, então, criou uma cena para Júlia e Cacá (Antônio Fagundes) que acabou encaixada, para que os dois se conhecessem, se olhassem, se beijassem e se separassem, encontro esse que só aconteceria no capítulo 25. A personagem Áurea foi diretamente inspirada na própria mãe do autor, mas ao contrário da real e da prevista na sinopse inicial, a da ficção não se suicidou: a magistral interpretação de Yara Amaral a salvou, sendo o marido da personagem a acabar por morrer.

A discoteca foi um dos cenários fixos da novela, mas algumas cenas foram gravadas na discoteca Hippopotamus, no Rio de Janeiro. Para a marcante cena da triunfal volta de Júlia, no capítulo 79, a figurinista Marília Carneiro criou uma calça jogging de cetim com listras laterais. E para completar o visual, não poderiam faltar as famosas meias de luréx, com as sandálias de salto alto. No capítulo 32, Gilberto Braga faz uma participação especial, convidado do Clube 17, dançando inclusive com Yolanda. Participaram ainda do capítulo, Djenane Machado, Ney Latorraca, Moacyr Deriquém e Lauro César Muniz. No capítulo 35, foi a vez do diretor Daniel Filho dar um pezinho de dança com Yolanda. Nana Caymmi canta "Prá Você", numa participação especial no capítulo 48. A novela também contou com a participação especial de Gal Costa, que cantou "Folhetim" e "Solidão". Júlia recebe em sua casa, no capítulo 129, a visita da colunista Hildegard Angel, acompanhada de Jorginho Guinle e de Edgard Moura Brasil. Danusa Leão comparece a uma festa no capítulo 137.

Sobre o final da novela, Daniel filho também menciona em seu livro: "Dancin' Days" teve um dos finais mais emocionantes de gravar. (...) Houve momentos em que tive dificuldade de gravar close dos atores, pois a emoção tomava consta deles. Lauro Corona ficou chorando uns 40 minutos sem conseguir dizer uma palavra. (...) Eu tinha que marcar a última cena, que era entre Sônia Braga e Joana Fomm. Era a cena em que as duas irmãs brigavam, uma cena de ódio e de amor. Depois se aproximavam , se abraçavam e pediam perdão uma à outra. (...) Acho a cena maravilhosa para televisão. Mas o chorou que tomou as duas não era o choro das personagens Júlia e Yolanda, era o choro de Sônia Braga, era o choro de Joana Fomm, o choro da despedida de um enorma sucesso, de uma enorme satisfãção, da satisfação do sucesso de toda uma família".

Foi a estréia em novelas do atores Lauro Corona e Sura Berditchewski. Os futuros atores, Eri Johnson e Cláudia Ohana, participaram como figurantes da novela. A novela foi reapresentada entre outubro e dezembro de 1982, às 22 horas. E num compacto de uma hora e meia em 18/02/1980, como atração do Festival 15 Anos (apresentação de Glória Pires).
Sinopse

JúliaJúlia Matos é uma ex-presidiária que ganha liberdade condicional após onze anos de prisão, e tenta se reaproximar da filha Marisa, tendo como principal obstáculo a irmã Yolanda Pratini, que criou a menina cercada de luxo e mimos. Yolanda, uma socialite que optou por se casar para subir na vida, queria que Marisa e a irmã trilhassem o mesmo caminho. Júlia, corajosa e determinada, tenta sem muito sucesso se reestabelecer fora do presídio, enquanto faz das tripas coração pra ser aceita pela filha, que a trata com hostilidade e aparente indiferença. Marisa é uma adolescente com temperamento rebelde, que não se importa com a situação. Em meio a tudo isso, Júlia acaba se envolvendo amorosamente com Cacá, um diplomata desiludido com a profissão.

Ao aproximar-se da filha simulando outra identidade, Júlia luta para que Marisa, à beira de um casamento precoce, tome decisões maduras diante daMarisa e Beto vida. No dia do casamento da filha, Júlia revela ser sua mãe e tenta impedir o casamento, mas não obtem sucesso. Durante a recepção, completamente embriagada, acaba por agredir Franklin, o pai de Beto, o noivo de Marisa, e graças à atitude precipitada de uma convidada (Áurea) de chamar a polícia, Júlia acaba novamente presa, e condenada a mais seis meses de prisão. Ao entrar no camburão da polícia, Júlia promete vingança. Considerando isso mais uma humilhação por conta da irmã e da filha, Júlia, ao sair da cadeia, aceita se casar com Ubirajara, um homem solitário apaixonado por ela. Após uma viagem e um providencial banho de loja, retorna exuberante, no dia da inauguração da discoteca Dancin' Days (o ex Club 17, agora sob a direção de Hélio) surpreendendo a todos - principalmente a Yolanda e Marisa - mCacáarcando assim a virada da personagem.

Após um show de sensualidade na pista de dança, Júlia dá inicio ao seu plano de vingança: diminuir as pessoas que a fizeram sofrer: Cacá, que ao rencontrá-la, não teve coragem de se separar da noiva, Inês; a filha Marisa, já desiludida com o casamento com Beto; e Yolanda, que se encontra separada de Horácio e totalmente falida. Júlia passa a se tornar a mulher admirada por todos, assumindo a mesma postura fútil que marcava a personalidade da irmã, suplantando-a diante da sociedade. Mostra-se capaz de ser "melhor" que ela. Mas ao final tudo se resolve: a ex-presidiária reconcilia-se com Cacá, consegue estabelecer uma relação amigável com a filha e, após se atracar com Yolanda numa festa no Copacabana Palace, acaba perdoando e se reconciliando com a irmã.
Elenco:
Sônia Braga/ Antônio Fagundes/ Joana Fomm/ Reginaldo Faria/ José Lewgoy/ Glória Pires/ Laura Corona/ Lídia Brondi/ Pepita Rodrigues/ Milton Moraes/ Cláudio Corrêa e Castro/ Ary Fontoura/ Mauro Mendonça/ Sura Berditchewski/ Eduardo Tornaghi/ Yara Amaral/ Mário Lago/ Lourdes Mayer/ Jacqueline Laurence/ Cleyde Blota/ Beatriz Segall/ Ivân Candido/ Renato Pedrosa/ Sandra Campos/ Gracinda Freira/ Diana Morell/ Neusa Borges/ Chica Xavier/ Regina Viana/ Mira Palheta/ Jardel Mello/ Suzana Queiroz/ Rejane Amaral/ Rejane Schumann/ Selma Lopes/ Osmar de Mattos/ Luciano Sabino/ Abelardo de Abreu/ César Augusto/ Fregolente/ Murilo Nery/ Denny Perrier/ Júlio Luís/ Ivete Milozski/ Orion Ximenes/ Raquel Mazza/ Rose Addario/ Joyce de Oliveira/ Roberto de Cleto/ Nino Gionanetti/ Jorge Ramos/ Maria Lúcia Dahl/ Sandra Pera/ Paolette.

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